Lá vai o meu textão... Sobre a coragem e vontade de
compartilhar sentimentos com a comunidade. Não, não é exposição barata. 😉
Então, em 2015 eu me perdi. Esse é o melhor resumo da
retrospectiva. Mas foi um perdido daqueles em que cada momento é um achado,
encontrado, observado, digerido e lapidado. Foi um perdido daqueles que a gente
dá quando se vê livre de imposições externas, que sempre nos balizaram e que,
também, sempre serviram de arrego da culpa e responsabilidade. Afinal, com
imposições externas a gente está livre do peso da decisão. Alguém decide por
nós, mesmo que não seja o melhor, mesmo que a gente finja que a decisão foi
nossa. Aí fica muito fácil, embora pareça difícil.
E aí a gente retroalimenta esse processo de tal forma que,
quando ele se interrompe, é como se o chão fugisse e a gente tivesse que fazer
malabarismos pra sobreviver. Afinal, todo o universo com o qual eu estava
acostumada (ou pelo menos a estrutura emocional dele) se foi. E, por causa
disso, todos os outros limites e parâmetros foram junto com ele, simplesmente
porque eu não sabia mais o que eram os meus próprios limites.
Me perdi, então, até encontrá-los aos poucos. Me tomei da
ansiedade de mostrar ao mundo todo o feminismo que eu reconhecia em mim, pra
garantir que eu não tivesse mais que suportar atitudes machistas,
principalmente as veladas. Me tomei da dificuldade de trabalhar, afinal, como é
que você se concentra com tantos eventos, amigos novos, experiências novas que
você precisa refletir se estão no seu limite interno ou não? Experiencias
profundas, cuja reflexão não leva dois minutos apenas... Momentos de letargia
em que você simplesmente não consegue se levantar. E aí, comecei a ver
estremecida uma área da minha vida em que nunca tive dificuldades. Que susto!
Me perdi...
Mas, ora, eu precisava viver isso um dia, todo mundo vive!
Nesse turbilhão de escolhas, dificuldades, noites mal dormidas, farras,
trabalho mecânico de cabeça cansada, tristeza, euforia, me envolvi com algumas
pessoas e cada uma delas me ajudou a crescer um pouco no que sou e quero ser
numa relação. Foram transições importantes de maturidade e consciência. Estava
perdida, mas aprendendo, observando, deixando ser.
Novas amizades se estabeleceram e foram alicerces essenciais
nessa reconstrução. Tanto que ficarão pra sempre, tatuados, sensatizados em
mim. Tanto que precisei tomar cuidado em algum momento pra não substituir
aquele lugar de controle e dominação que havia desabado (graças a Deus). Me
perdi... Mas me achei aos poucos com a verdadeira e genuína vontade desses
amigos, que me viram como parte deles e me resgataram, com amor, honestidade e
consciência. Vocês sabem de quem eu tô falando.
Acontece que meu ano foi acabando muito bem. Eu, caçadora de
mim, fui me achando em surtos de cansaço (do trabalho e da vida que tava
levando) e percebendo que meu corpo e mente não dão conta de tudo isso. Tive
oportunidade de reviver experiências antigas, que me lembrei que me davam força
e prazer, energia pra batalha seguinte.
E resolvi firmá-las pra 2016. Passei o reveillon em casa,
com uma dessas fontes de energia pra qual eu nunca tinha olhado dessa forma.
Sempre achei que elas me demandavam muito, mas nunca percebi o quanto me renovo
com essas minhas meninas. Minhas amigas que, hoje, me confidenciam segredos,
talvez por perceberem que a menina delas cresceu, se perdeu, mas fez disso um
aprendizado grande de si mesma e do outro. Maturidade. Eu me perdi, mas tava
era vivendo o caminho, a travessia, onde o real pra gente se apresenta. Então,
não me perdi foi nada!
Eu atravessei o mar e cheguei à outra margem do rio em que
ele se transformou, caudaloso, agitado, fundo e turvo. Fui parar num ponto da
margem que não era o que eu via do lado de lá. Mas é assim o perigoso do viver
né?
Preciso, então, dizer que sou grata. Não foi a sua ida que
me desestruturou não. Ela só me mostrou como a minha vida estava fundada em
bases frágeis de imagens, fantasias, show me up. A reconstrução do meu ser não
tem a ver com o universo que se foi, mas vai muito além disso. É sobre mim e tudo
que é importante pra mim. Sendo assim, sinto muito, me perdoa, eu te amo, sou
grata.
Pra 2016?
Coragem pra dizer e mostrar quem eu sou em todas as minhas
diferenças, sem ter medo do que vão pensar de mim. Meus amigos (todos muito
diferentes entre si) estão comigo porque são especiais e me amam como eu sou.
Movimento pra sair da inércia e vencer a preguiça de andar
na vida, no Chico, nos patins.
E serenidade pra vencer a ansiedade de mostrar que eu sou
mais do que pareço ser e deixar que isso se revele assim, aos poucos, como deve
ser. Se eu me perder de novo, terá sido mesmo a correnteza do rio, porque
consciência e conhecimento de mim eu tenho suficientes pra saber como devo
proceder e pra aprender mais, caso algum procedimento desses não dê certo. Então,
amigos, não é 2016 que vai ser melhor, serei eu.